À cerca de oito dias, a convite da Dra. Lurdes Queirós - presidente da Junta de Freguesia de Sta. Cruz do Bispo, participei numa actividade pedagógica para as crianças do infantário.Como encerramento da feira do livro, na Junta de Freguesia, esta actividade consistiu na leitura de contos da minha autoria e num diálogo aberto entre mim, a minha mãe e as crianças (entre os 3 e os 5 anos), tendo como objectivo sensiblizá-las sobre a diferença.Para além de terem ficado a saber sobre como eu vivo numa cadeira de rodas, as crianças também puderam experimentar o capacete, com o qual trabalho, pinto e faço tudo os que os outros fazem. Se muitos dizem que a pintura é o espelho da alma do pintor, a crianças comprovaram isso, pintando (com o meu capacete) um lindo quadro cheio de cor. Assim, as crianças puderam reter que o mais importante é fazer e não como se faz.Foi uma manhã muito divertida para todos, onde podemos partilhar e aprender, independentemente das diferenças de idade ou limitações.Ao contrário dos adultos, as crianças aceitam e lidam facilmente com as diferenças, desde que lhes expliquem correctamente (na sua linguagem) porque existem e como lidar com elas. As crianças não são cruéis, são espontâneas e perguntam por mera curiosidade. A forma como as pessoas interpretam e respondem às perguntas das crianças é que nem sempre está correcta.É-me muito frequente ouvir adultos a responderem ás crianças "A menina não anda, porque é doentinha, coitadinha"! Esta é a pior resposta que se pode dar a uma criança, porque é errada e nem satisfaz a sua curiosidade. Pior que o doentinha é o coitadinha como ponto final, que funciona quase como "é um caso perdido, ignora".Bem, sei que ainda há muita ignorância que gera preconceito em torno da deficiência, mas é preciso combatê-la. E, hoje em dia, com tantos meios de comunicação, só é ignorante quem faz questão de o ser.Como dizia o Pavarotti, "as crianças são vítimas da estupidez dos adultos", ou seja, quando são cruéis é porque as educaram com bases em ideias mal concebidas.Se existirem iniciativas como a Dra. Lurdes Queirós, de criar eventos e actividades onde as crianças possam, desde pequeninas, aprender a conviver com a diferença, o mundo terá um futuro muito melhor.Não nos esqueçamos, que antes de se ser matemático, cientista, engenheiro, político ou qualquer outra coisa, tem que se aprender a ser Homem, a partilhar e a respeitar o próximo.Por isso, agradeço e louvo a iniciativa da Dra. Lurdes Queirós, que apesar de exercer um cargo político, nunca se esquece do seu papel de mãe e de professora. Espero que as escolas, políticos, pais e encarregados de educação sigam o seu exemplo.Rita Silva
Fonte: Matosinhos Hoje edição de 08-06-2010
Sem comentários:
Enviar um comentário