O dia acordou cinzento e a nuvens ameaçavam chuva a qualquer instante.
Como sempre o citadino vê a chuva como um contratempo que pode servir para cancelar ou estragar uma festa ao ar livre. Foi exactamente isso que eu pensei, quando acordei para ir a uma reunião familiar, na quinta da Costeira, na Aveleda.
Curiosamente, este também era o dia de aniversário do meu pai. Por isso, ir à Costeira foi uma forma de o recordar e de lhe prestar homenagem, onde ele brincou e conviveu com a família do seu avô paterno.
Eu não cheguei a conhecer o meu bisavô Joaquim e só fiz uma visita à Costeira uma única vez, quando tinha apenas três ou quatros anos de idade, da qual não me recordo. No entanto, cresci sempre com a Costeira no meu imaginário, por causa das histórias que a minha avó Teresa e bisavó Matilde me contavam.
Deste modo, ir à Costeira foi com uma viagem no tempo, onde as histórias das minhas avós se tornaram realidade e onde pude recordar memórias que vivi apenas pelo que me contavam. Foi uma sensação deliciosamente estranha, pois mesmo sem conhecer as maioria das pessoas, senti-me completamente em casa e em família.
No inicio, a tendência foi descobrir “quem é quem” e construir à pressa uma confusa árvore genealógica, mas são tantas gerações que optamos por ser todos primos e primas e usufruir do momento com alegria.
Deste modo, o piquenique debaixo da velha ramada, para qual cada um contribuiu com uma iguaria, juntou risos, conversas e histórias que pareciam não ter fim. Que delicioso o arroz de forno da nossa querida anfitriã Bel! Huuuum, e o vinho da aldeia?! Já para não falar nos grelhados do primo Mário, na frescura dos saborosos tomates do quintal, do doces e do Pão Podre, que segundo o tio Quim, escandalizou o meu pai, quando era miúdo, por pensar que lhe estavam a oferecer pão estragado. Realmente, o nome não é lá muito apetitoso, mas o doce é mesmo saboroso!
De barriguinha cheia, enquanto as crianças brincam no antigo baloiço, no qual dizem que caí ao colo do meu avô, uns primos deixam-se embalar pela tranquilidade da quinta, outros passeiam pelos recantos navegando pelas memórias, os mais curiosos andam simplesmente a bisbilhotar os encantos dos tempos antigos, outros dedicam-se a eternizar o momento em fotografias, outros brincam com os velhos cães da quinta e outros certificam que nada falta na mesa.
Mais primos continuaram a chegar, trocam abraços emocionados e relembram histórias de tempos que já lá vão e de pessoas que já cá não estão.
Foram vários os momentos em que imaginei, no meu interior, as vozes da minha avó Teresa e da minha bisavó cheias de alegria por verem a família toda junta na quinta centenária, onde passaram muitos dos seus melhores momentos da sua infância e juventude.
“Vês, Ritinha, quando era pequena adorava passar por este caminho de buxos” – diria a minha avó Teresa entusiasmada – “Sente o cheirinho, huuum, que maravilha!”
“Nos tempos mais frios, juntávamo-nos todos na Sala de Inverno, com a salamandra acesa, a lanchar e a conversar até anoitecer” – contaria a bivó Matilde - “Eram tardes em cheio”.
Tal com eu, para além da longa conversa com as suas queridas primas Bel e Tecas (anfitriãs da casa), a avó Teresa ia adorar fazer festas aos encantadores cães da quinta, principalmente á “Fugy” que não se cansava de me dar a patinha, pedindo mimos.
O salsicha do vizinho apareceu de repente cheio de energia, agitando os restantes companheiros que, na sua linguagem, lhe dizem para se ir embora. Cabisbaixo, lá foi ele pela estrada fora, mas… não demorou muito a voltar!
À tardinha, eu e a minha mãe tivemos ainda o privilégio de dar um passeio pela quinta na companhia das primas mais novas – Isabel, Leonor e a linda princesinha pequenina Ariana – e a sua tia Albertina. A doce Ariana fez questão de me oferecer duas pedrinha do chão da quinta, que guardei com todo o carinho como recordação destas crianças fantásticas, que vivem felizes e saudáveis no meio da natureza.
Por instantes, a chuva resolveu juntar-se à festa, dando-lhe apenas um toque de frescura, que soube mesmo bem, mas logo veio o sol quentinho, cuja luz mágica de fim de tarde ilumina a fotografia com todos os primos a posar para a posteridade.
Fica assim a memória de um dia que prometia ser cinzento e acabou por se inundar de emoções, recordações e descoberta de um mar de primos, numa reunião familiar, onde o passado e o presente se encontraram harmoniosamente, na tranquilidade de uma quinta cheia de histórias.
Fica também a saudade e a vontade de lá voltar.
Há muito tempo que não vinha ao teu blog e só agora vi este teu texto.
ResponderEliminarE ainda bem que o vi, pois foi exatamente assim que eu me senti. Tudo. A camaradagem com as primas que só tinha visto uma ou duas vezes, os recantos contados e recontados pela tua avó que os faziam tão familiares, a lembrança da tua avó. Tudo o que tu descreves.
Beijos Paula