Partilho convosco um excerto do meu conto “Os três irmãos
duendes”, que escrevi em 2023, onde falo do meu quintal, juntando os retratos
das minhas árvores, também feitos por mim, a aguarela digital.
“- Uau, que jardim mais lindo! – encantou-se a Rosa Vaidosa.
- Até parece o nosso bosque encantado! - disse o Nariz-Gelado.
Ao ver o pequeno quintal da Ritinha, entre muros e feios
prédios, de repente, o duende percebeu que, afinal, havia sítios em que a
natureza precisava de ser cuidada e protegida, sobretudo na cidade, onde
praticamente não há árvores. O duende sentiu que a Natureza estava em risco,
pois para construírem tantos edifícios destruíam vastas áreas verdes. Aí,
começou a sentir que talvez pudesse fazer alguma coisa para alertar os humanos,
pois se não os travasse, qualquer dia até o seu bosque desapareceria!
O seu coração ficou triste e aflito, perdendo todo o
entusiasmo pelas “experiências mágicas” (ou melhor, pelas invenções
tecnológicas) dos humanos, que punham em risco a Mãe Natureza.
- É maravilhoso, não é? – aproximou-se a Ritinha – É
pequenino, mas, para mim, é o maior e o mais belo quintal do mundo!
- Que árvores tão amorosas e que flores tão delicadas! –
disse a Rosa Gulosa.
- As minhas queridas amigas árvores são fantásticas e cada
uma tem o seu nome. Venham conhecê-las! – convidou a menina, levando, cheia de
entusiasmo, os duendes até ao quintal.
Satisfeitos por pisaram a fofa relva verde, os duendes
seguiram a sua nova amiguinha, numa apaixonante visita guiada.
- Esta é a ameixoeira Frufru, que dá as melhores ameixas do
planeta! - apresentou a Ritinha, cheia de ternura - Chamei-lhe Frufru por me
fazer lembrar a forma das saias volumosas das damas antigas, que deveriam fazer
frufrufru, quando elas andavam dum lado para o outro. Ali, junto ao muro, estão
os araçazeiros, que dão um fruto delicioso, chamado araçá. Na verdade, era só
um arbusto que era maior do que todas as restantes árvores, por isso chamei-lhe
Gigante. Agora são vários Gigantes cheios de bolinhas amarelas, que parecem
guizinhos de Natal. Este aqui é o limoeiro Pirolito que, no início, tinha
preguiça de crescer e dar limões, mas agora, já está bem crescido e sempre
carregadinho. Ali, a maior árvore do quintal, é o pessegueiro Grandalhão, que
dá os melhores pêssegos do mundo! E por fim a D. ª Ginjeira, que nunca se
esquece de dar frutos, ao contrário da Princesa Cerejeira que está tão
preocupada com a beleza e elegância, que até se esquece de dar as suas
deliciosas cerejas amarelas!
- Adoro as tuas flores, são todas tão lindas! - admirou a
Rosa Vaidosa - Olha só para aqueles brincos-de-princesa, até me apetecia
pendurá-los nas orelhas.
- Vieram do jardim da minha avó, assim como as rosas, as
sardinheiras, as hortênsias, os jarros brancos, entre muitas outras plantas que
adoro. Algumas das plantas também foram oferecidas por vizinhos e amigos
queridos.
- Olha ali, um pimenteiro e morangueiros! - entusiasmou-se a
Rosa Gulosa – Sou perdidamente apaixonada por morangos!
- Também tenho amoras, que os passarinhos tanto gostam. – disse
a Ritinha - Ai, ai... Este é mesmo o
meu quintal encantado onde passo momentos mágicos e aprendo coisas fantásticas
sobre a Natureza. Sempre que cá venho faço amigos novos, desde passarinhos,
borboletas, libelinhas, joaninhas, bichinhos-da-conta, caracóis comilões, gatos
vadios atrevidos, entre outros animais extraordinários. A minha família cresce
de cada vez que faço um amigo novo e o meu coração fica ainda mais feliz!
- É tão bonito ver o teu amor pelos animais e plantas -
disse o Nariz-Gelado - Apesar de pouco conhecer os humanos, já percebi que eles
pouco olham para a Natureza. Nós, os duendes, não conseguimos viver sem a
Natureza. Ela é nossa mãe e, por isso amamos e respeitamos todos os seus
seres-vivos, sejam animais ou plantas, cada qual com o seu coração, e, como
disseste, fazem todos parte da nossa grande família.
- Exatamente, eu também penso assim. Infelizmente muitas pessoas só sabem destruir
a Natureza em troca de dinheiro e luxos. Talvez por isso goste tanto de
duendes, fadas, e outras criaturas mágicas que habitam na Natureza.
- Querida Ritinha, és uma humana com um lindo coração verde
de duende, que ama a Mãe Natureza. –
disse a Rosa Vaidosa.”
in "Os três irmãos duendes", Rita Micaelo Silva, 2023
O passarinho do meu quintal
Um poema em homenagem a uma pardalita com quem fiz amizade no verão de 2023.