sábado, 9 de março de 2024

“Andar a romper limites” - documentário

 


O Dia Mundial da Mulher foi ontem, mas como todos os dias devem ser de toda a gente, partilho hoje, um documentário que, em 2004, fizeram sobre mim.

“Andar a romper limites” é um episódio premiado internacionalmente, que integra uma série documental – “Andar com as próprias pernas” – produzida por uma parceria entre universidades de três países, Portugal, Brasil e Peru.

Entretanto, terminei o Mestrado em 2010 e trabalho há quatorze anos, três como Provedora do Cidadão com Deficiência e onze como Técnica Superior de Som e Imagem, na Função Pública.

Contudo, em pleno século XXI, tal como tantos outros, continuo e sofrer discriminação e a ver-me privada de muitos direitos básicos, só por ser mulher e ter uma deficiência. Por isso é urgente a construção de uma sociedade sem rótulos, onde todos sejam tratados simplesmente como SERES HUMANOS, permitindo-lhe uma vida digna, com LIBERDADE e IGUALDADE.

Da minha parte continuarei a tentar romper limites.

Agradeço a quem me tem ajudado neste já longo em complexo caminho, desejando a todos as maiores felicidades.

E agora, divirtam-se, com as minhas cantorias e traquinices denunciadas no referido documentário.  

http://lugardoreal.com/video/andar-a-romper-limites-rita

domingo, 28 de janeiro de 2024

Um crocodilo na praia de Matosinhos

João Carlos é o autor da magnífica escultura de areia feita no areal da praia do Titã, em Matosinhos. 

Trata-se de um crocodilo com cerca de quatro metros, olhos feitos com limões, dentes de concha, garras de mexilhão e o sombreado é feito com carvão natural. 

Extremamente realista, o crocodilo deslumbrou os passeantes, que usufruíam do bom tempo de domingo, na marginal de Matosinhos, chegando inclusivamente quem o confundisse com um animal verdadeiro.  

Segundo o escultor, a efémera obra em areia, demorou cerca de dois dias a ser concluída. Mencionou também que areia fina do areal de Matosinhos apresenta as características ideais para esse tipo de construção. 

João Carlos não tem resistência fixa, vai percorrendo os areais e, tal como os artistas de rua, vai vivendo das gratificações de quem para a apreciar a sua obra. 

Um talento nato que merece ser aplaudido, apoiado e aproveitado, sobretudo pelas autarquias, uma vez que se trata de um excelente exemplo de arte ecológica, e uma bela atração turística, sobretudo ao fim de semana e na altura do verão.  


Rita Micaelo Silva, 28/01/2024

Fotografias de João Carlos e Rita Micaelo


domingo, 17 de dezembro de 2023

Boas Festas!

 

Que neste Natal haja paz, amor e mais respeito pela Natureza! 




sábado, 30 de setembro de 2023

Guitarra sem cordas


Tenho uma guitarra no fundo da sala 

Que já não toca nem fala

Chora hora após hora

Pelos bons tempos de outrora 

 

Ó velha guitarra sem cordas

Sei quanto doí o que recordas

Sei que sonhas mas sabes bem

Que o teu guitarrista já não vem

 

Ó velha guitarra sem cordas

Já com mais nada te importas 

Tocas toda a tristeza do mundo 

Numa só nota do silêncio profundo 

 

Ó minha guitarra sem cordas

Do teu sonho não acordas

De um belo dia ele regressar 

Só para te voltar a tocar

 

Rita Micaelo Silva 

Novembro de 2022

O passarinho do meu quintal

Estava lá no meu quintal 

À sombra do pessegueiro 

Eram p'raí quatro e tal 

Quando o vi no limoeiro 

 

Daí foi p'ró araçazeiro

E depois p'rá cerejeira 

Nada quis com o loureiro 

Gostou mais d'ameixoeira

 

Naquela tarde de sol

Cheirou lavandas e rosas

Perguntou pelo girassol 

Deixou sardinheiras vaidosas

 

Procurou pelos narcisos 

Gladíolos, prímulas e agapantos

Dos jacintos bebeu água dos vasos 

Sonhou com amores-perfeitos 

 

Admirou flores amarelas 

Trevos de três e quatro folhas 

E outras tantas plantas belas

Impossíveis de fazer escolhas

 

Nos brincos-de-princesa parecia um postal

Não ligou às hortênsias, brincou c’os jarros

Na buganvília e pimenteiro foi diversão total

E ali nem ouvia o barulho dos carros

 

Descansou na linda ginjeira 

Viu insetos e borboletas 

Petiscou na relva rasteira 

Escondeu-se em grutas secretas

 

Era um passarinho pequenino 

Castanho, cheio de formosura 

Tinha olhar doce de menino 

Repleto de mistério e ternura 

 

E no fim da brincadeira, veio tímido 

Perguntei-lhe quem ele era

Disse-me baixinho ao ouvido 

Um amor para a vida inteira  

 

Rita Micaelo Silva 

09/2023

 

quarta-feira, 26 de julho de 2023

"Pessegueiro com gladíolos ("Flor dos Avós") e ginjeira"



"Pessegueiro com gladíolos e ginjeira", 2023,  Rita Micaelo Silva 

Desenho digital a lápis de cera


Na verdade, os gladíolos não se chamam "Flor dos Avós", mas como no meu quintal costumam florir em julho, pus-lhes este nome, uma vez que se celebra o Dia dos Avós a 26 de julho. 

A cena pintada aconteceu há um ou dois anos e não foi fotografada. Contudo, a imagem do gladíolo a espreitar por entre os ramos do pessegueiro, como se fosse uma criança curiosa, nunca mais me saiu da memória, pelo que resolvi passá-la para o papel. 

Tenho certeza de que todos os meus avós adorariam o meu quintal, uma vez que foram eles que despertaram em mim, desde pequena, o amor pela Natureza. Por isso, estas lindas flores são mais um símbolo da sua presença, uma homenagem à sua memória. 

sábado, 10 de junho de 2023

Um bolo à-toa

No fim de semana, a minha mãe resolveu fazer um bolo "à-toa" e o resultado foi bem bom. 

É um bolo simples, ótimo para a hora do chá. 


Ingredientes:

250g de farinha  

250g de açúcar 

4 ovos pequenos 

2 colheres de sopa de manteiga 

Raspa e sumo de uma laranja 

1 iogurte (opcional e, caso não ponha sumo de laranja, pode optar por um iogurte de aromas)  


Preparação:

Numa tigela, bata a manteiga com o açúcar, até obter um creme, ao qual vai juntar os ovos, um a um.  

De seguida envolva a farinha, a raspa e o sumo de laranja, com o preparado. 

Unte a forma com manteiga e deite o preparado. 

Leve ao forno pré-aquecido a 180º, durante 40-50 minutos, coloque papel de alumínio quando o bolo começar a lourar, para não queimar 

Desinforme e deixe arrefecer. 


Este bolo só tem um problema, é impossível resistir a uma segunda ou terceira fatia. Como podem ver, na fotografia, foi quase metade do bolo num só lanche, com duas pessoas apenas. 

domingo, 21 de maio de 2023

Conversa Estrelada


- Olha, uma estrela no chão. Achas bem? 

- Acho. 

- Achas bem estar uma estrela caída no chão?! 

- Acho. Porquê que as estrelas também não hão de ter direito a descer à Terra, de vez em quando?! 


Rita Micaelo Silva 

21/05/2023

sábado, 13 de maio de 2023

O duende Samu e o passarinho Jojo

Era uma vez um duende solitário, que vivia num lindo cogumelo vermelho, bem no meio do bosque encantado.

O duende chamava-se Samu e andava muito triste por não ter com quem passar o Dia do Duende* que se aproximava.

Certo dia, o Samu passeava pela floresta, como sempre gostava de fazer, para apreciar as belezas da Mãe Natureza.

A dada altura, o Samu encontrou um passarinho caído do ninho, a chorar, cheio de medo e fome.

O pequeno duende procurou a mãe pássara por todo o lado, mas ninguém reconheceu o passarinho como seu filhote.

Deste modo, o Samu levou o passarinho consigo para casa, deu-lhe o nome de Jojo e cuidou dele, ainda melhor do que qualquer mãe pássara.

O Samu e o Jojo nunca mais se separaram e viveram aventuras fabulosas, no bosque, onde fizeram muitos amigos, como duendes, fadas, criaturas fantásticas, animais e plantas.

Três dos seus melhores amigos eram a fadinha Teté brincalhona, a adorável fadinha Titi soneca e a linda fadinha Sasá, por quem o Samu tinha um carinho muito especial.


Todos se divertiam, ajudavam e protegiam uns ou outros, pois ninguém conseguia estar feliz, quando alguém ficava triste.

Assim, com o Jojo e os outros amigos, o Samu ganhou uma família fantástica que fazia com que todos os dias fossem Dia do Duende, cheios de amor, paz, magia e muita alegria.



 

Rita Micaelo Silva

11/04/2023




Fotografias de Rita da Cunha Micaelo Silva 


*O Dia do Duende celebra-se a 13 de maio. 

quarta-feira, 3 de maio de 2023

“O ideal seria que cada pessoa plantasse pelo menos duas árvores, para salvarmos a humanidade.” Sri Jadav Payeng

Apesar de ser reconhecida como a maior ilha fluvial do mundo, Majuli, situada no rio Brahmaputra, na Índia, tem vindo a diminuir devido à erosão.

Todos os anos, os habitantes da ilha enfrentam cheias que os obriga a mudar constantemente de casa.

Apesar dos permanentes esforços para travar a erosão, recorrendo a sacos de areia, prevê-se que dentro de quarenta anos a ilha irá ficar reduzida em 60%, tendo já neste momento, pouco mais de 400 quilómetros quadrados, quando inicialmente tinha 1150 quilómetros quadrados.

Um dos habitantes desta ilha, Sri Jadav Payeng, ativista conhecido por “o plantador de árvores” , dedicou toda a sua vida a plantar a floresta Molai no solo arenoso e diz continuar a fazê-lo, enquanto for capaz, porque considera ser sua obrigação ajudar na reflorestação do mundo.

Jadav Payeng afirma que as raízes das árvores seguram os sedimentos, ajudando a contrariar a erosão da ilha, sobretudo árvores de raízes fundas, como bambu-indiano ou coqueiros. Contudo, Jadav Payeng diz que o problema não é só daquela ilha, é um problema geral, sendo necessário a intervenção dos sete mil milhões de habitantes do planeta e, o ideal que cada pessoa plantasse pelo menos duas árvores, para que seja possível a sobrevivência da humanidade.

Na minha opinião, para além de cada humano plantar duas árvores, como diz Jadav Payeng, ainda mais importante é perseverar árvores, preservar sobretudo as escassas florestas ancestrais e tropicais.

Até porque as florestas plantadas são muito mais vulneráveis e suscetíveis a incêndios, porque a sua arquitetura estilo pombalino (com as árvores todas alinhadas como os soldados numa parada militar), faz com que o sol chegue facilmente ao chão, proporcionando o crescimento de vegetação inflamável e o aquecimento do solo, para além de outras razões, como a plantação de espécies facilmente inflamáveis e o desequilíbrio das cadeias alimentares, já para não falar nos fogos postos, etc.

As florestas ancestrais/tropicais são muito mais densas, sombrias e frescas, com uma organização e funcionamento tão perfeito, que muito raramente sofrem incêndios, sendo estes normalmente de pequenas dimensões.

São as florestas, seja em terra ou nos oceanos, que garantem o equilíbrio e a sobrevivência do planeta. 

A nossa intervenção só as tem prejudicado. 

A natureza já existia muito antes dos humanos, é perfeita e não foi feita para que fosse dominada/manipulada por eles, antes pelo contrário.

A política de plantar três árvores por cada uma abatida é ilusória e economicista, porque a quantidade de oxigénio que uma árvore idosa produz, assim como o dióxido de carbono que absorve, é muitíssimo superior à de três árvores jovens.  Ao abatermos árvores idosas, estamos a libertar astronómicas toneladas de CO2 para a atmosfera, contribuindo fortemente para o aquecimento global, para além de outros graves males.

Por isso, em vez de se destruírem, por minuto, áreas florestais equivalentes a dez campos de futebol, tal como acontece na Amazónia, é urgente pararmos e apostarmos na reflorestação, porque se continuarmos neste ritmo, não teremos condições de vida neste planeta, dentro de muito pouco tempo.

Plantar e preservar árvores é vital, caso contrário não iremos sobreviver.

As árvores devem, sem dúvida, estar no topo da lista das prioridades para salvarmos ao planeta, já em tão mau estado.

As árvores e todas as espécies de seres vivos, pois todos têm um papel importante no funcionamento global do planeta. 

Obrigado, Sri Javad Payeng e a todos os que dão o seu contributo para salvar o que ainda sobra da Terra. 


Rita Micaelo Silva 

Maio, 2023 



segunda-feira, 1 de maio de 2023

Menina de biscuit


Menina que passas na rua

Tão cheia de charme e “belezura”

Lá vais tu sempre na tua 

Irradiando tanta luz e ternura 

O que levas no balde não sei não

Mas olha que me levaste o coração 

 

Menina pareces feita de biscuit 

Os teus olhos verdes e pele branca

Levam-me a sítios onde nunca fui

Graciosamente levas o balde na anca

Onde vais ó menina princesa mais linda

Tem cuidado que te perdes ainda 

 

Menina belíssima, boneca de biscuit

Tão fina e delicada que temo partir

Pois tímido e desajeitado eu sempre fui

E isso nota-se até no meu tonto sorrir   

Não sou nenhum príncipe encantado 

Mas por ti estou completamente fascinado 

 

Menina minha joia de porcelana 

Meu mais precioso tesouro

O meu velho coração, o sacana 

Não sossega, bate mais forte do que um touro 

Ai, como queria ter asas de vento e voar

Só para te conseguir acompanhar 

 

Menina de cachos de ouro

O que tens escondido na floresta 

Algum segredo, mistério ou tesouro

Deixa-me ir contigo, levo-te a cesta

Encho-te o balde de rosas e lavandas 

Faço tudo o que queres, princesa, tu mandas 

 

Rita Micaelo Silva 

1 de maio de 2023 

 

 

 

 

 

terça-feira, 21 de março de 2023

Minhas queridas árvores

Minhas queridas árvores, 

 

Hoje é o Dia Mundial da Árvore. Ou pelo menos é o que dizem os Homens. 

Os mesmos Homens que desde sempre vos trataram como mera matéria-prima, procurando tirar o melhor partido de vós, da vossa madeira, do vosso fruto, ou do vosso bonito aspeto decorativo. De tudo, esquecendo-se do principal, amar-vos enquanto seres vivos e, ainda por cima, os seres vivos que lhes dão o oxigénio para viverem! 

E depois quando se cansam de vocês, simplesmente abatem-vos sem qualquer ressentimento. 

Sim, os mesmos Homens que, todos os dias, abatem hectares e hectares de floresta, destruindo milhões e milhões de vidas. 

Os mesmos Homens que erguem as "bandeiras do ambiente" e que dizem que por cada árvore abatida, plantam três. Como se alguma vida fosse substituível, ainda por cima quando se trata de árvores centenárias ou milenares. Como se isso bastasse para salvar o que quer que seja. 

Os mesmos Homens que apesar dos claros avisos de situação muito grave e quase irreversível, insiste em continuar a tratam-vos com hipocrisia e crueldade. 

E vocês, indefesas, sofrem em silêncio, continuado a dar-lhes aquilo que é indispensável à vida, tal como uma mãe dá tudo a um filho, mesmo que não receba o seu amor.  

Doí-me de cada vez que vejo uma árvore encaixada no betão, na berma das estradas, é como andar de sapatos com muitos números abaixo e, como se não bastasse, ainda têm de respirar a nojenta poluição humana, sobretudo nas cidades, ditas modernas e civilizadas. 

Dói-me ver árvores cortadas só porque não dão jeito ou já não ficam bem naquele sítio. 

Doí-me ver tanto sofrimento e tanta falsidade na forma como os humanos que se dizem donos do mundo e do conhecimento, tratam as políticas ambientais. 

Dói-me ver-vos a morrer e, convosco, tantas outras espécies, dia após dia. 

Dói-me ver os Homens a saber que se continuarem a destruir o ambiente, eles próprios vão extinguir-se e, mesmo assim continuam cegos por dinheiro. 

Dói-me porque vos amo, minhas queridas árvores, sois para mim o maior dos outros tesouros, sois a principal fonte de vida! Sem vós, nós humanos não seremos nada. 

Sinto-me privilegiada por ter um pequeno quintal com algumas árvores, entre várias outras plantas. Cada qual com o seu nome próprio, de acordo com as suas personalidades, pois são seres vivos, e por isso, trato-as com todo o amor que merecem. Amor que elas me devolvem em dobro. Já para não falar no quanto me têm ensinado, quando estou na sua doce companhia!

Só queria que todas as árvores do mundo fossem tratadas com o mesmo respeito e amor com que trato as minhas, pois seríamos todos muito mais saudáveis e felizes. 

Oh minhas queridas árvores, torço para que não seja apenas hoje o Dia Mundial da Árvore, mas sim, todos os dias. 

 

Com amor 

Rita 

21 de março de 2023

sábado, 28 de janeiro de 2023

O “velhinho simpático” do jardim do Passeio Alegre

 

Quando era pequena, costuma ir muitas vezes, com os meus avós paternos, passear ao jardim do Passeio Alegre, na Foz do Douro.

Era um jardim tranquilo, com vistas para o mar e cheio de referências históricas e, tudo o que tenha histórias ainda hoje me deixa fascinada.

Contudo, o que eu mais gostava de andar lá a correr entre as árvores e canteiros.

O meu avô segurava-me por debaixo dos braços e lá andava eu a conquistar o jardim, como quem conquista o mundo.

A minha avó vinha atrás com a cadeira de rodas, para quando me cansasse. Ou então sentava num banco e metia conversa com alguém, caso a minha bisavó não fosse também connosco.

Uma vez meteu conversa com um velhinho que costumava lá estar muitas vezes, sentado num daqueles bancos de jardim, de olhar perdido no imenso mar de pensamentos.

- Ritinha, estás a ver este senhor? É um grande poeta, chama-Eugénio de Andrade. – apresentou-mo.

Eu cumprimentei-o, apenas como um velhinho simpático.

Apesar de sempre ter gostado de livros, de histórias e, de desde bem pequena dizer que queria ser escritora para escrever um livro e não fazer mais nada na vida, naquele momento, confesso que estava mais interessada em correr pelo jardim e deixar-me levar pela imaginação.

Não senti aquela emoção de estar com perante um dos maiores poetas portugueses, pois afinal, eu era apenas uma miúda.

O que mais me impressionou foi vê-lo tantas vezes sozinho.

Apetecia-me chamá-lo para vir brincar comigo, tal como fazia com a minha bisavó, grande companheira de aventuras.

No entanto, a minha avó dizia-me que os poetas gostavam de estar sozinhos com os seus pensamentos, para se inspirarem, o que não não me convencia lá muito. 

Hoje compreendo-o bem, pois também sinto esta necessidade, embora não me considere poeta, mas gosto simplesmente de estar com os meus pensamentos, que muitas vezes resultam em história desenhos, pinturas ou no que me der na telha. Se o que faço serve para alguma coisa o não, é supérfluo,  porque o que me importa é o prazer de o fazer. 

O certo é que, mais tarde, já adulta, conheci outras personalidades, nomeadamente artistas, tinha consciência da sua obra ou dos seus importantes feitos, mas quando estava perto delas, o sentimento foi o mesmo de quando conheci o Eugénio de Andrade, “o velhinho simpático”. 

Perto delas, via apenas o ser humano, com todas as suas virtudes e fragilidades, bem diferente da imagem de estrelas intocáveis que os media passavam. Agora já não há tanto esta impressão, mas há uns anos atrás, quem aparecia na televisão era quase um gigante, uma superstar, enfim era algo magnífico. 

Percebi então, a efemeridade da vida e a fragilidade do ser humano.

Seja quem for, faça o que fizer, conquiste o que conquistar, todos começam e acabam da mesma forma.

Apesar de ter sido (ou melhor, de SER) um grande poeta, naquela altura, eu vi no Eugénio de Andrade, apenas um velhinho que precisava de amor e carinho, que talvez sentisse a solidão da velhice como muitos outros.

Sim, podemos ser uma grande personalidade nalguma área, andar sempre rodeados de gente e sentirmo-nos sós.

Na verdade, preciso crescer para descobrir o prazer da nossa própria companhia e provavelmente o Eugénio de Andrade já o tinha descoberto há muito. Hoje percebo que talvez não estivesse assim tão só. Aliás, depois vim a saber que, na realidade, nunca esteve sozinho, pois tinha os amigos e a sua Ana Maria, amiga/filha do coração, que o acompanhou em todos os momentos. 

A essência humana é aquilo que me toca mais, apesar de admirar uma boa obra.  Uma coisa é o artista, outra coisa é a pessoa em si, embora um influencie o outro, são duas identidades distintas. 

Para mim, Eugénio de Andrade era assim, tinha todo o prestígio do mundo, mas sempre se refugiou deste, procurando viver a vida simples e ser simplesmente um ser humano como qualquer outro.  Fez questão de manter a sua vida como Sr. José, usufruindo, enquanto pôde, de tardes ou manhãs junto do mar e das palmeiras do jardim do Passeio Alegre, que tanto adorava, pois, afinal, não há nada melhor do que a companhia da natureza.

Penso que, tal como eu, o que importava mesmo a Eugénio de Andrade era aquilo que somos enquanto simples seres vivos, tudo o resto são adornos.  O que importa é vivermos em paz, vivendo com simplicidade e com aquilo que nos faz feliz.

Para além do poeta extraordinário, continuo a ver o Eugénio de Andrade (ou melhor, o Sr. José, porque o poeta só conheci mais tarde, através da sua obra) como o “velhinho simpático” do jardim do Passeio Alegre. Vejo-o como mais uma doce recordação dos bons momentos passados com os meus avós.

Não sei, mas acho que Eugénio de Andrade ficaria contente com esta terna imagem que guardo dele, porque parecia-me um senhor simples e só as grandes almas sabem ser simples.

E o mais engraçado é que, só agora, passado tantos anos, ao recordar o nosso breve encontro e ou conhecer a sua obra com outra maturidade, descobri que tínhamos várias coisas em comum, entre as quais a predileção pelas artes, pela literatura, pela escrita, pela natureza e pela mãe.  



domingo, 15 de janeiro de 2023

Os mortos vivos e vice-versa

 

Para mim, há vivos que estão mortos e mortos que estão e estarão sempre bem vivos. 

domingo, 8 de janeiro de 2023

Dar um presente à Mãe-Natureza


O melhor presente que me podem dar é ajudar-me a dar um presente ao nosso planeta. . 

O melhor presente que me podem dar, são árvores, são todas as espécies de seres vivos, é a Grande Mãe-Natureza! 

São montanhas, mares, rios, desertos, prados floridos e tudo o que de belo existe neste pequeno planeta.

São bosques e florestas, sobretudo as ancestrais com árvores milenares.   

É a preservação das florestas e dos oceanos que nos dão tudo para que nós, humanos, possamos existir.  

O melhor presente que me podem dar, é ajudaram a salvar a nossa Mãe-Natureza! 

A nossa inigualável e insubstituível Mãe-Natureza, por nós tão ferida. 

Ainda podemos sarar muitas das suas feridas, já que outras são irreversíveis. 

Ainda podemos salvar a nossa querida Mãe-Natureza, mas o tempo é já muito pouco. 

Precisamos de abandonar imediatamente os nossos hábitos de consumismo egoísta e passar a viver em sintonia com a Natureza. 

Troquemos os presentes materiais por gestos de amor e paz. 

Troquemos a hipocrisia das palavras bonitas por ações concretas. 

Ações que ajudem a diminuir o desperdício e a desigualdade neste planeta. 

Ações que tornem o mundo humano menos controverso, mais feliz e cooperante. 

Ações que recuperem e preservem a nossa Mãe-Natureza, para que nós próprios também possamos ser salvos. 

Sim, porque os humanos são como um bebé no ventre da sua mãe, se a continuarem a destruir também não irão sobreviver...  

A vida é a o mais precioso dos presentes. 

Por isso, o melhor presente que me podem dar é a Mãe-Natureza mais sã, com todas as suas espécies, com toda a sua paz e sabedoria. 

Pode parecer tudo muito utópico, mas as utopias deixam de ser utopias quando as tornamos realidade. 

quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

A utopia do tempo e os seus tempos

 

O passado já existiu.

O futuro ainda há de existir.

Só existe então o presente, que é o reflexo do passado e de um futuro que ainda existirá.


Rita Micaelo Silva 

Janeiro, 2023

domingo, 27 de novembro de 2022

Boas Festas!

 


sexta-feira, 11 de novembro de 2022

Os tsurus de Sadako Sasaki

Neste Dia Mundial do Origami deixo a minha humilde homenagem a Sadako Sasaki, a menina de 12 anos, vítima de leucemia por causa da bomba da Hiroshima, em 1945. 

Com fé na antiga lenda japonesa, durante a doença, Sadako dedicou-se a fazer mil tsurus (grous, aves sagradas da cultura japonesa), conseguiu fazer 646 mas a morte levou-a antes de os completar. 

No entanto, os seus amigos de escola fizeram questão, não só de completar os mil tsurus, como angariaram fundos para que fosse erguido um momento escultórico, em sua homenagem, apelando à paz no mundo, para que não hajam mais vítimas inocentes.

Desta forma, o tsuru tornou-se um símbolo da paz no mundo, para além de ser um dos origami mais populares da cultura japonesa, que simboliza sorte, saúde, longevidade e fortuna. 

Inicialmente, os tsurus era elementos decorativos, mas depois passaram a estar associados à oração, estando sempre presente nas comemorações, como casamentos, aniversários, nascimentos, entre outras. 

É também hábito japonês, oferecer tsurus aos amigos e entes querido, desejando-lhes assim, sorte, saúde, longevidade, fortuna e outras coisas positivas para a vida



 


terça-feira, 1 de novembro de 2022

Pintando árvores em tempo de pandemia

Enquanto a humanidade lutava escondida contra um vírus invisível

Lá fora, a Natureza florescia cheia de graça e alegria

Mostrando, com a sua ternura de mãe, que tudo é vencível

Mostrando que depois de qualquer tempestade de novo renascia

Dando-nos amor, dando-nos vida

Mas o Homem sem sentimento

Para ver a sua ganância servida

Não lhe faz qualquer agradecimento

Destrói florestas e mares, destrói a vida de tantos seres

Como se deles não precisasse

Como se fossem coisas sem vida, nem amores

Como se uma sábia árvore de um objeto se tratasse


Por isso pinto árvores, verdadeiras fontes de vida

Símbolo da beleza e da esperança

Torcendo para que o Homem troque

As pedras que lhe enchem o peito e a taça

Por sementes da quais renascerão florestas e bosques

É urgente preservar e plantar árvores

Porque com elas salvaremos com certeza

Com todas as suas formas e cores

A única e insubstituível Grande Mãe Natureza

 

Rita Micaelo Silva

Outubro, 2022



terça-feira, 25 de outubro de 2022

Tobii, controlar o mundo com o olhar

 

A Tobii é uma tecnologia que permite a interação com o computador, utilizando apenas o olhar.


Trata-se de uma tecnologia sueca ainda pouco conhecida em Portugal que, para além ser um brinquedo interessante para os amantes de jogos de computador, é uma ferramenta brilhante para pessoas com mobilidade reduzida que têm dificuldade a interagir com dispositivos físicos como o rato ou teclado, para trabalhar com o computador.

Com esta tecnologia o utilizador com mobilidade reduzida pode desempenhar todas as tarefas que um utilizador comum, sem esforço físico e com muito mais rapidez do que com qualquer outro sistema.

De acordo com a minha experiência pessoal, posso inclusivamente dizer que a Tobii permite uma precisão dificilmente alcançável com os outros dispositivos, graças ao sistema de infravermelhos (um singelo aparelho do tamanho de uma esferográfica, que se prende na margem do monitor com um pequeno íman) que segue o olhar do utilizador. Desta forma, o rato passa a ser o olhar do utilizador, bastando fixar um ponto para fazer clique e usar o teclado virtual para escrever.


Já tinha experimentado outros sistemas de controlo do computador através do olhar, mas recorriam ao uso de uma câmara, o que, para além de terem muito pouca precisão, faziam com que utilizador perdesse o controlo do computador de cada vez que desviasse o olhar do monitor. Daí eu nunca me ter adaptado a nenhum desses sistemas existentes há mais anos.

Com o Tobii o utilizador só calibra o olhar apenas uma vez, no momento da instalação do software, regula as definições de acordo com as suas necessidades específicas e, depois fica sempre pronto a utilizar, podendo desviar o olhar sempre que quiser, sem nunca perder o controlo do computador.

A Tobii permite ainda o controlo ambiental (interação com eletrodomésticos como televisão, telemóvel, estores, etc) e também já vi uma cadeira de rodas elétrica a ser controlada com o olhar.

Resumindo e concluindo, com a Tobii não há limites!

Para quem não sabe, nasci com Paralisia Cerebral, tendo por isso, 97% de incapacidade, o que faz com que tenha de recorrer à tecnologia para poder levar uma vida normal.


Desde 2016 que não uso capacete/ponteiro (companheiro fiel desde os meus oito anos, com o qual fiz todo o meu percurso académico, concluí o mestrado, em 2010 e comecei a trabalhar) para interagir com o computador, faço-o, apenas com o meu olhar (como podem observar no vídeo acima).  

Conheci a Tobii graças ao empenho dos meus colegas do Departamento de Informática da autarquia onde trabalho, que se empenharam de corpo e alma para encontrarem uma ferramenta de trabalho que me permitisse melhorar o desempenho e sobretudo a qualidade de vida, bem como aumentar a possibilidade de trabalhar por mais anos.  

A tecnologia Tobii libertou-me do capacete, que me estava a causar problemas graves na cervical. Deste modo reduzi significativamente as minhas dores no pescoço e cabeça, assim como melhorei muito a minha rapidez de interação e eficácia nas tarefas diárias. Apesar das lesões serem graves e de me causaram muito desconforto, ainda consigo continuar a trabalhar, graças à Tobi.

Aqui ficam algumas pinturas e desenhos digitais, que tenho feito nos tempos livres, com a Tobii.




domingo, 2 de outubro de 2022

A Velhinha das Pombas da Ponte D. Luís

 


Jeremias nasceu na rua das Carquejeiras, no Porto. 

Tal como os outros rapazes, nascidos nas primeiras décadas do século XX, costumava brincar naquela zona, onde avós, mães, tias, subiam a longa e penosa rampa, carregadas de carqueja, para alimentar a cidade, que delas fazia questão de se esquecer, na sua miséria. 

Entre as suas brincadeiras, Jeremias gostava também de observar a paisagem, com alma de poeta. Aliás, esta era a sua alcunha, o "Poeta". Aquela paisagem do deslumbrante rio Douro, recheada de mistério, fascinava-o. 

Mas era a ponte D. Luís, o elemento de eleição do pequeno Jeremias. Não só pela sua imponente beleza, mas sobretudo por causa de um acontecimento que se repetia sempre no mesmo dia, anualmente. 

Desde que se conhecia, Jeremias lembrava-se de ver uma velhinha, que naquele determinado dia, descia, todos os anos, à ponte, onde pendurava uma pequena pomba de papel. 

Jeremias observou várias vezes o ritual da velhinha, de tal forma, que acabou por fixar o dia preciso. 

Por volta dos seus dez anos, o rapazinho resolveu aproximar-se da velhinha, no momento em que ela, com as suas mãos já muito trêmulas, atava na grade da ponte, um cordel que tinha na ponta a pomba branca feita de papel. 

- Desculpe... Porque está a pendurar uma pomba de papel aí? 

Com um terno sorriso, enquanto terminava de dar o nó, a velhinha respondeu ao garoto. 

- Faço isso desde o meu primeiro ano de vida. Nos primeiros anos, vinha pela mão do meu pai, mas conforme fui crescendo, passei a vir sozinha, todos os meus aniversários, pendurar uma pombinha branca, para que esta me realize o desejo, assim que o vento a leve a voar por esses céus imensos.

- Desejo? – perguntou o menino, com o olhar a brilhar de curiosidade. 

- Sim, peço à pomba que me traga uma única coisa, que quem a tiver, tem tudo na vida. 

- O que é? 

- É paz, meu pequeno, paz... − respondeu a velhinha, com uma festa no cabelo desalinhado do Jeremias. 

E assim, a velhinha retomou o caminho de volta ao morro, no seu passo lento e corcovado, apoiada numa tosca bengala, enquanto que o Jeremias, ainda ficou, um bom pedaço, a ver a pomba a baloiçar com o vento. 

No ano seguinte, Jeremias voltou à ponte, onde esperou a velhinha, que viria pendurar a sua pomba branca.

No entanto, as horas passaram e a velhinha não apareceu. 

Jeremias soube então, que a poucos dias de completar o seu centésimo aniversário, a velhinha tinha voado para a sua eterna paz. Faltava uma pomba a para completar o bando, que ao longo de um século, tinham voado, uma a uma, da ponte D. Luís, para se juntarem a algures, na terra dos desejos. 

O pequeno Jeremias não quis deixar o bando incompleto e, nesse dia, amarrou ele próprio uma pomba de papel, na grade da ponte. 

Quando terminou o nó, o menino olhos para o lado e encontrou uma pomba branca verdadeira que, passado instantes, bateu asas e voou em direção ao céu dourado pelo sol, onde se juntou a um numeroso bando. 

Jeremias sorriu e, a partir daquele dia, passou a pendurar, todos os anos, uma pombinha de papel na grade da ponte, continuando a ser assim o ritual da Velhinha das Pombas da Ponte D. Luís. 

 

Rita Micaelo Silva

2020