quarta-feira, 31 de março de 2010

O pobre diabo

Se repararmos temos sempre a tendência para culpar alguém dos nossos males. A culpa é sempre de tudo e de todos, menos nossa! Somos todos vítimas de um mundo cruel! E quando não temos a quem deitar culpas, culpamos o Diabo.
A verdade é que o pobre Diabo nem sequer existe. Ele é apenas uma forma de nós “figurarmos” o mal. Aliás o ser humano atribui uma forma e um nome a tudo o que conhece e que imagina, porque só é capaz de imaginar aquilo que vê. O Diabo é portanto uma mera representação do mal que nós não queremos ou não sabemos justificar.
Ora, se Deus criou o Mundo à sua imagem (julgam os crentes), onde o amor é o núcleo principal, não tinha qualquer lógica se criasse uma criatura maléfica. Assim como não faz sentido, vermos Deus como o “ditador” que nos comanda à distância.
Deus é o amor e, o amor é liberdade. Os homens são livres e o mundo depende das suas atitudes, para se tornar mais justo.
O conhecimento parte sempre da observação. Criamos imagens e nomes para tudo, mesmo para aquilo que não conseguimos ver nem explicar,
É nas atitudes do Homem que reside o bem e o mal do mundo. Por isso, mais vale pensarmos muito bem e assumir aquilo que fazemos, do que perdermos tempo com bodes expiatórios.
Tudo o que digo, já foi dito por padres, teólogos, filósofos, artistas, cientistas e outros intelectuais.
Eu apenas lembro o facto da mente humana funcionar à base de imagens / nomes. O conhecimento parte sempre da observação. Criamos imagens e nomes para tudo, mesmo para aquilo que não conseguimos ver nem explicar, mas sempre com base naquilo que vemos.
No fundo, eu diria que nós é que criamos Deus e todas essas figuras místicas / religiosas à nossa imagem e não o contrário. Desta forma, Deus e o Diabo existem conforme acreditamos neles.
Homem é minúsculo em relação à imensidão do Universo e o facto de nem sequer saber a sua origem, faz com que ele tenha necessidade de criar teorias, crenças, religiões, para se sentir mais confortável e protegido. Concluindo, vivemos muito da ilusão, assumindo-a como verdade.


Para Pensar: Há automóveis que não podem ser comercializados ao abrigo da Lei do Deficiente, só porque emitem mais Dióxido de Carbono, do que é permitido por lei. Mas então, os “ditos normais” podem ter desses automóveis?

Rita Silva - marterita@gmail.com

Fonte: http://www.matosinhoshoje.com/index.asp?idEdicao=460&id=24418&idSeccao=3499&Action=noticia

domingo, 21 de março de 2010

O Mistério da Redondinha

É comprida, redonda e pontiaguda.
Serve de arma de guerra ou de paz.
O contacto com um corpo liso e virgem, fá-la verter um líquido, que deixa marcas.
Marcas que só o tempo pode apagar...
Marcas de prazer, de dor, de alegria, de sabedoria, de raiva, de solidariedade, de ciência, de arte, de amizadade, de amor... ou simplesmente marcas!
Essa redondinha pontiaguada, não tem vida própria. Obedece fielmente à vontade do seu dono, até se esgotar e cair esquecida...
(O que será essa coisa redondinha?)

sexta-feira, 19 de março de 2010

Atirei o pau ao gato

As cantigas de roda, tão utilizadas nas brincadeiras e na educação infantil, estão muitas vezes recheadas de violência.
Faz-se um grande burburinho face à violência que hoje existe nas escolas, nas ruas, culpa-se toda a gente, mas não se faz nada para mudar. É mais fácil deixar as crianças entregues aos jogos de playstation, às séries e desenhos-animados cheios de violência injustificável, à Internet, do que estar com elas e ensinar-lhes os valores (amizade, respeito, etc.). Deixamo-las também entregues aos educadores e professores, depositando neles toda a responsabilidade. E quando alguma coisa corre mal os pais depositam a culpa nos educadores, nos média e na vida ocupada que levam.
É verdade que os médias são responsáveis pelo aumento da agressividade nas crianças. É igualmente verdade que a televisão deviam ter mais cuidado com a violência na programação infantil.
Contudo, uma das principais razões do aumento da violência nas crianças é a falta de atenção dos pais. Preocupam-se mais em sustentar os filhos do que em educá-los.
Bem que a violência não é só fruto do nosso tempo, vem já de há várias gerações. A prova está nas cantigas de roda que os pais ensinam aos filhos, logo nos primeiros anos de vida. Reparem na primeira canção que ensinamos aos bebés:

“Atirei o pau ao gato
Mas o gato não morreu
Dona Chica admirou-se
Com o berro que o gato deu
Miau!”

Qual é a pedagogia destes versos? O que assimila a criança? Apenas violência injustificável.
No entanto, os papás riem e aplaudem, quando o menino canta a canção decor. E quando o menino atira o pau ao gato, também se riem? Com que moral vão castigá-lo? Afinal, a criança só está pôr em prática o que os pais lhe ensinaram…
Tal como esta, existem muitas outras canções e contos infantis que, para além da violência, não têm qualquer coerência, nem conteúdo.
Por isso, os pais e educadores devem estar presentes na vida dos filhos e controlar a informação que lhes chega. Não podemos isolar a crianças da violência nem do mundo, mas devemos ter o cuidado de lhes explicar porque acontecem as coisas.
A tradição deve ser mantida quando é benéfica, caso contrário deve ser revista e adaptada. Reparem como canção tradicional “Atirei o pau ao gato” se torna menos violenta, mais coerente e pedagógica, mudando apenas duas palavras:

Atirei o peixe ao gato
Mas o gato não comeu
Dona Chica admirou-se
Com o berro que o gato deu
Miau!

Para pensar: Sabiam que a legislação NÃO protege o aluno deficiente no Ensino Superior?

Rita Silva
Fonte: http://www.matosinhoshoje.com/index.asp?idEdicao=458&id=24306&idSeccao=3489&Action=noticia

quinta-feira, 4 de março de 2010

Amor Solúvel - Uma comédia musical de Carlos Tê

“AMOR SOLÚVEL é um consultório sentimental em formato de talk show televisivo, onde um professor sexólogo disserta sobre o amor nas suas várias vertentes acompanhado por uma entrevistadora embevecida que lhe põe as questões que recebe por mail dos espectadores. O doutor é um sábio dotado da rara particularidade de ilustrar os pensamentos e os conselhos com canções.
As suas teorias são enriquecidas e reforçadas pela análise das canções populares o seu papel desempenhado na construção do imaginário amoroso ocidental.
A peça não tem uma história, é um consultório sentimental que explora questões enviadas por correio electrónico, mas, no seu decurso, tanto o doutor como a entrevistadora, assim como um dos camera-men, cederão a impulsos confessionais, pequenas catarses íntimas, muito ao gosto do mundo televisivo, provocando a inversão de papeis e levando a que, num dado ponto, o analista seja a analisado pela entrevistadora e pelo camera-man, depois de estes terem tido também os seus momentos de confissão pública.
Nos momentos musicais, a entrevistadora canta com o professor em duetos românticos, ajudados pelas harmonias dos camera-men, fazendo a peça deslizar para uma atmosfera inspirada nas obras para televisão do dramaturgo inglês Denis Potter.”

Amor solúvel é uma Comédia Musical escrita por Carlos Tê, com encenação de Luísa Pinto e Direcção Musical de Hélder Gonçalves (Clã).

A peça estará em cena de 3 a 28 de Março - Cine-Teatro Municipal Constatino-Nery em Matosinhos
Quarta a Sábado 21h30
Domingo 16h00”

Fonte: http://www.cm-matosinhos.pt/PageGen.aspx?WMCM_PaginaId=16551&eventoId=58049

De tudo o que eu já vi, esta é, sem dúvida, umas das melhores comédias portuguesas. Toda a dinâmica e estrutura da peça leva-nos a passar cerca de duas horas de agradável diversão, onde nós próprios (público) também fazemos parte do espectáculo. Através da inteligência e subtileza das piada, Carlos Tê faz um retrato actual de como o Homem se comporta perante os sentimentos. Verdades nas quais todos nós já pensamos, mas que nunca foram explicitamente expostas, como nesta comédia.
Tecnicamente, o musical é muito simples, cenário e vestuário super singelos, poucos actores e uma excelente interpretação, assim como uma grande qualidade musical, contando com a colaboração (na composição das músicas) de Rui Veloso, Resende Dias, entre outros notáveis da música nacional.
É um espectáculo bastante acessível, que recomendo a todos.

terça-feira, 2 de março de 2010

DEBATE NO SILÊNCIO DA NOITE (in MATOSINHOS HOJE)

Hoje sai mais um artigo da minha autoria, no Jornal Matosinhos Hoje. Trata-se de um comentário sobre um evento importante que passou despercebido e da falta de interesse dos portugueses em participar na resolução dos problemas do país.


Debate no Silêncio da Noite

No passado dia 10 de Dezembro de 2009, a Amnistia Internacional de Portugal realizou um debate sobre a descriminação na deficiência, na Junta de Freguesia de Matosinhos.
A convite da Dra. Otília Gradim (Presidente do Núcleo de Matosinhos), fiz parte da mesa, representando a Paralisia Cerebral ao lado da surdez e a deficiência mental.
Neste debate falou-se dos vários tipos de descriminação, onde se verificou que, apesar de serem deficiências distintas, as descriminações eram as mesmas. Estas descriminações ocorrem essencialmente a nível familiar, académico, profissional e social.
Hoje em dia é hábito falar-se de deficiência, na comunicação social, mas sempre no sentido de “puxar a lágrima” e chamar audiência. Falar das dificuldades sem apresentar soluções, é fácil, mas não resolve nada. Pelo contrário, só aumenta o estigma!
O importante deste debate, foram as sugestões de soluções para os problemas expostos. Foi, com isso, mais além da superficialidade com que os médias abordam a temática.
No entanto, o debate realizou-se na calada da noite, onde só estavam presentes deficientes e pessoas que lidam com eles, assim como alguns membros da Juventude Socialista. A ausência da comunicação social e de entidades governamentais fez com que o debate passasse despercebido, apesar do esforço da Amnistia em divulgar.
A falta de interesse e o comodismo dos portugueses, é uma das principais causas do atraso do país face ao resto da Europa. Criticam, dizem mal, choram-se, mas a maioria não faz nada para melhorar o que dizem estar mal.
É preciso aproveitar as oportunidades que nos dão para falar, para fazer valer a nossa opinião, sair do sofá e participar em eventos, debates, votar… É preciso agir! E isso é válido para toda a gente.
Como já vos tinha dito, não vou estar sempre a bater na tecla da deficiência, uma vez que é excessivamente explorado pela comunicação social. Contudo, no fim de cada artigo, irei apenas colocar um pequeno comentário para vos deixar a pensar.

Para Pensar: Sabiam que os surdos pagam uma taxa ÁUDIO-visual, tal como os “ditos-normais”?

Rita Silva

Fonte: http://www.matosinhoshoje.com/index.asp?idEdicao=456&id=24183&idSeccao=3478&Action=noticia