domingo, 28 de agosto de 2022

Um inesquecível mergulho nas maravilhas da Curia

Após um período particularmente controverso e doloroso, eu e a minha mãe decidimos fazer uma semana de termas, para recarregar energias.

Fomos então para o Hotel das Termas da Curia.

Nunca tínhamos feito termas e confesso que não estava lá muito entusiasmada, porque tinha uma ideia errada daquilo que são as termas. Pensava encontrar o género de uma clínica onde todos se queixam das suas maleitas, mas afinal é completamente diferente. Ou melhor, é tudo menos isso.

Entrada do Parque e Hotel das Termas da Curia
Mal lá cheguei, deparei-me com um parque encantado, dentro de uma espécie de muralha de castelo, onde se situam as instalações do hotel e das termas, num belíssimo edifício centenário, rodeado de florestas, belos jardins românticos, piscina, parque infantil, um magnífico lago entre outras maravilhas que logo me fizeram sentir em paz, sendo impossível conter o largo sorriso. 

Aliás aquilo que me convenceu a deixar o meu querido quintal por sete dias foi precisamente o magnífico parque cheio de árvores centenárias. O que eu não sabia era que o hotel ficava mesmo dentro do imenso parque.

Caminho verdejante com árvore antiga
A felicidade foi total quando me vi a passear naqueles jardins e florestas maravilhosas, onde não resisti em procurar fadinhas, duendes entre outros seres mágicos. Bem espreitei para dentro dos buracos das centenárias árvores, encontrei inclusivamente um hotel de fadas numa árvore muito velhinha e com forma de mulher, vi libelinhas gigantes, passarada e carpas enormes no lago, mas as fadas e duendes não quiseram aparecer pois, como sabem, são seres muito discretos. Quer dizer, eu não os vi nas suas formas originais, mas conheci uma série de pessoas que são autênticas fadas e duendes, pois fazem tudo para fazer os outros felizes.  

Logo no almoço bufete, bastante diversificado, saboroso e saudável, com excelentes pratos de chef (ainda mais sofisticados ao jantar, mas sempre equilibrados), conheci a imensa variedade de pessoas que frequentam aquele paraíso, desde bebés a idosos, a conviverem harmoniosamente, como se de uma grande família se tratasse.

Sim, não é habitual que haja tanto convívio nos hotéis, aliás eu até nem gosto de hotéis e nunca me senti tão em casa como no Hotel das Termas da Curia.

Lago com peixes e gaivotas e vegetação
Todos sem exceção, desde os donos do hotel, às empregadas da limpeza, aos senhores da manutenção, rececionistas, funcionários do restaurante, bem como muitos dos hóspedes, médicos, funcionários, terapeutas e utentes das termas, não sabiam o que mais haviam de fazer para nos agradar.

Há muito que me sentia tão mimada por desconhecidos, parecia até que era uma princesa, com quem quase todos quiseram meter conversa e trocar contatos. (Para todos um grato abraço)

Desta forma, os “desconhecidos” tornaram-se rapidamente bons amigos que fizeram com que a nossa estadia naquele paraíso, onde reina a doce paz da luxuriante natureza, fosse ainda mais mágica, inesquecível, inspiradora, enriquecedora e, sobretudo, rejuvenescedora.

Para além de relaxar, também aprendi muito, com as pessoas fantásticas que fui conhecendo, cada uma com as suas interessantes histórias.  A primeira inesquecível surpresa aconteceu logo que cheguei ao hotel, quando a querida D.ª Judite, uma senhora de 97 anos, a quem o AVC não lhe levou a música da memória, nos presenteou com lindíssimos acordes de Beethoven e Chopin. A D.ª Judite foi, então, a primeira fadinha que conheci, com os seus lindos olhos azuis, naquele hotel paradisíaco.

Percurso florestal

No entanto, o paraíso entende-se para além da muralha, pois a população do pequeno lugar da Curia é igualmente hospitaleira e calorosa. Não são muitas as pessoas que se veem pelas ruas, bem cuidadas, com boas acessibilidades e sempre, sempre cheias de vegetação, mas o certo é que toda a gente se cumprimenta com um sorriso, mesmo que não se conheçam.

Confirmei então a minha teoria de que os bons ares da natureza fazem com todos vivam mais saudáveis, mais calmamente e, naquele lugar, não há pressas para nada, o tempo passa tranquilamente, ninguém sofre de stress e, talvez por isso, as pessoas sejam mais humanas e afáveis. Viver em sintonia com a natureza é a chave para viver melhor.

Já para não falar do poder das águas termais que, aliado aos vários tratamentos feitos por excelentes profissionais incansavelmente dedicados aos seus utentes, tão bem faz ao corpo e à alma.

Buvette
Os tratamentos nas termas fazem-nos sentir leves como se mergulhássemos em pó-de-fada. Também não será por acaso que passamos por uma gruta fantástica para aceder às instalações das termas! Todos os pormenores são encantadores e a magia da natureza paira por todo o lado. 

Pelo menos eu saí de lá muito mais leve, sem as contraturas que me punham as costas curvadas e doridas. Foram tratamentos intensos, que me deixaram toda partida, mas que agora revelam excelentes resultados. Para além das melhoras físicas, esta estadia fez também com que eu me sinta muito mais relaxada, tranquila, com outra energia para enfrentar os problemas (que anteriormente me pareciam megalómanos) e sobretudo com uma nova esperança na humanidade, graças às lindas “fadas” e “duendes” em figura de gente que lá conheci.

Tão boa foi a experiência na Curia, que a minha mãe até quer ir para lá viver e eu fiquei triste por me vir embora, coisa que nunca aconteceu em férias nenhumas. E o mais engraçado, é que os funcionários do hotel e das termas também se despediram de nós com uma lágrima ao canto do olho, de tão ligados estavam às Ritas.

Nas termas da Curia ganhamos não só saúde física e mental, mas também uma nova família de amigos que nos deram tudo o que há muito precisávamos. Foi como mergulhar num belo mundo encantado, cheio de paz e boa gente. É indubitavelmente uma estadia que recomendo, pelo menos uma vez por ano, para relaxar e repor energia, sozinho ou em família.

Piscina exterior do Hotel das Termas

Gostei de regressar a casa e ver que, no querido quintal, as plantas cresceram e floresceram, mas a vontade de voltar ao paraíso encantado do Hotel das Termas da Curia é mesmo muito grande.

Tanta é a vontade de volta de estar no paraíso, que regressei à Curia, para festejar o meu aniversário, onde fui novamente recebida com muitos mimos e ainda tive direito a bolo e champanhe, completando-se festa, com a ajuda do S. Pedro que nos deu um tempo maravilhoso para banhos de piscina, para além dos deliciosos tratamentos termais

Por isso, envio, aos amigos da Curia, um terno abraço e um até breve.

 

Rita Micaelo Silva

Agosto, 2022


Fotografias de Rita Maria C Micaelo Silva 

O teu lenço branco bordado

Era um lenço branco delicado

Tinha o teu nome bordado

Guardava-o junto ao peito destroçado

Depois de me teres deixado

 

O vento levou-mo de repente da mão

Quis roubar-me mais o pouco de coração

Mas nem um minuto hesitei então 

Em correr atrás do lenço que nunca tocou o chão

 

Percorri toda a fria e triste cidade

Onde ninguém faz nenhuma caridade

Mas corri, corri a toda a velocidade

Atrás do lenço como uma verdadeira preciosidade

 

Então o teu lenço branco bordado

Ficou preso num velho galho entortado

Daquela árvore cuja altura deixa qualquer um atordoado

Mas que trepei até ao topo, mesmo desajeitado

 

Lá em cima da grande árvore adorada

Ao ver a mais bela e clara alvorada

Lembrei-me daquela manhã encantada

Em que te conheci e não quis saber de mais nada

 

Na copa daquela árvore percebi então

Que o teu lenço branco na minha mão

Era só uma pequena e terna recordação

Pois afinal não te perdi, eras o meu mundo, o meu coração


Rita Micaelo Silva 

Agosto, 2022