sábado, 13 de novembro de 2021

O Dia da Bondade

Pintura digital a óleo/ Rita Silva
Confesso que sou avessa a esta história de dias comemorativos disto e daquilo, até porque a maioria das vezes são para apelar ao consumismo ou para alertar para problemáticas que, no século XXI, já nem sequer deviam existir.

Diria até que fiquei chocada com o facto de existir o Dia da Bondade, porque isto significa que esta é tão rara, ao ponto de precisar de ser lembrada.

Ora na minha opinião, a bondade deve uma atitude espontânea, genuína, um ato de respeito e de amor ao próximo, de solidariedade, a ser praticado todos os dias.  

Não pode haver dia nem hora certa para fazer o bem, caso contrário não passa de uma valente hipocrisia. Aliás a maior parte dos dias comemorativos não só são pura hipocrisia, como um intensivo à mesma.

Os problemas não podem ser lembrados e discutidos num só dia, para depois serem varridos para debaixo do tapete durante o resto do ano, sem serem resolvidos.

Já não bastava o Natal, hoje em dia, consumista e terrivelmente hipócrita, em que todos exibem o seu status presenteando os outros com presentes caros, vistosos, enquanto passam o resto do ano às turras ou até sem se falarem, ainda tinham que inventar o Dia da Bondade.  

Hipocrisia, pura hipocrisia, cada vez mais enraizada na sociedade humana, de tal forma que nem sequer precisa de ter um dia comemorativo, porque esta, sim, pratica-se todos os dias, em todas as horas e lugares.

Enfim, feliz será o dia em que não seja necessário haver dias comemorativos para lembrar as pessoas que existem este ou aquele problema para ser resolvido ou que devem ser bondosas, nem que seja por um dia.

Feliz será o dia em que a bondade substitua a hipocrisia. 

O dilema das palhinhas condenadas 


Quem me conhece minimamente, sabe perfeitamente que sou a primeira a defender o ambiente e todos os seres da natureza. Aliás não sou sequer capaz de matar uma formiga. Acontece que eu, tal como todos os seres humanos, também faço parte da natureza e, por isso  necessito de beber para sobreviver e só o consigo fazer através das condenadas palhinhas de plástico.
Como eu,  há muitas outros  seres  humanos com incapacidades motoras, que  só conseguem beber e até alimentar-se por palhinhas. Ou seja, há muitas pessoas que dependem das palhinhas para sobreviverem.
As alternativas que conheço são as palhinhas de papel que se desfazem num minuto na minha boca, ou as palhinhas de alumínio ou de plástico duro que me fazem feridas na boca, para além de se desformarem todas após a lavagem na máquina. Resumindo, nenhumas destas alternativas me permitem beber e ambas vão parar á mesma ao lixo sendo, na minha opinião, ainda menos ecológicas, porque o plástico duro é ainda mais difícil de se degradar e o fabrico de papel exige o abate de árvores. Sei também de umas palhinhas de hóstia, inventadas por um grupo de adolescentes, mas que não são comercializadas. De resto não tenho conhecimento de mais alternativas. Por isso, se existirem outras, agradeço que me digam.
Contudo, eu deito sempre o meu lixo no ecoponto, porque me dizem, desde pequenina, que será reciclado, tratado e transformado noutros produtos.
Desta forma, como é que o lixo vai parar ao mar e tartarugas enfiam palhinhas no nariz? É tão estranho que até parece uma partida de um qualquer ilusionista habilidoso.
Ora, antes de condenarem as palhinhas, não será melhor investigar o  que fazem realmente as empresas de reciclagem de lixo? Não  será melhor proibir a entrada de materiais não biodegradáveis nas praias e a criar pesadas coimas para quem deita o lixo fora do sítio?  E que tal investir no plástico biodegradável que se degrada em cerca de 180 dias após o contacto com  a luz solar, com a água ou com o solo? Substituir o plástico por papel e madeira é solução? Então  faz mal  poluir os oceanos e não  faz mal  destruir as já tão escassas florestas? 
E já agora, para onde acham que vão os stocks de palhinhas que estão a ser retiradas do mercado??? Se souberem, por favor, digam-me, que eu vou lá busca-las.  Prometo não andar a enfiar as palhinhas no nariz das tartarugas e, se for preciso, até as ensino a beber por palhinha.