sexta-feira, 26 de julho de 2024

Retrato das minhas árvores

 

Partilho convosco um excerto do meu conto “Os três irmãos duendes”, que escrevi em 2023, onde falo do meu quintal, juntando os retratos das minhas árvores, também feitos por mim, a aguarela digital.  

 

“- Uau, que jardim mais lindo! – encantou-se a Rosa Vaidosa.

- Até parece o nosso bosque encantado! -  disse o Nariz-Gelado.

Ao ver o pequeno quintal da Ritinha, entre muros e feios prédios, de repente, o duende percebeu que, afinal, havia sítios em que a natureza precisava de ser cuidada e protegida, sobretudo na cidade, onde praticamente não há árvores. O duende sentiu que a Natureza estava em risco, pois para construírem tantos edifícios destruíam vastas áreas verdes. Aí, começou a sentir que talvez pudesse fazer alguma coisa para alertar os humanos, pois se não os travasse, qualquer dia até o seu bosque desapareceria!

O seu coração ficou triste e aflito, perdendo todo o entusiasmo pelas “experiências mágicas” (ou melhor, pelas invenções tecnológicas) dos humanos, que punham em risco a Mãe Natureza.

- É maravilhoso, não é? – aproximou-se a Ritinha – É pequenino, mas, para mim, é o maior e o mais belo quintal do mundo!

- Que árvores tão amorosas e que flores tão delicadas! – disse a Rosa Gulosa.

- As minhas queridas amigas árvores são fantásticas e cada uma tem o seu nome. Venham conhecê-las! – convidou a menina, levando, cheia de entusiasmo, os duendes até ao quintal.

Satisfeitos por pisaram a fofa relva verde, os duendes seguiram a sua nova amiguinha, numa apaixonante visita guiada.

- Esta é a ameixoeira Frufru, que dá as melhores ameixas do planeta! - apresentou a Ritinha, cheia de ternura - Chamei-lhe Frufru por me fazer lembrar a forma das saias volumosas das damas antigas, que deveriam fazer frufrufru, quando elas andavam dum lado para o outro. Ali, junto ao muro, estão os araçazeiros, que dão um fruto delicioso, chamado araçá. Na verdade, era só um arbusto que era maior do que todas as restantes árvores, por isso chamei-lhe Gigante. Agora são vários Gigantes cheios de bolinhas amarelas, que parecem guizinhos de Natal. Este aqui é o limoeiro Pirolito que, no início, tinha preguiça de crescer e dar limões, mas agora, já está bem crescido e sempre carregadinho. Ali, a maior árvore do quintal, é o pessegueiro Grandalhão, que dá os melhores pêssegos do mundo! E por fim a D. ª Ginjeira, que nunca se esquece de dar frutos, ao contrário da Princesa Cerejeira que está tão preocupada com a beleza e elegância, que até se esquece de dar as suas deliciosas cerejas amarelas!

- Adoro as tuas flores, são todas tão lindas! - admirou a Rosa Vaidosa - Olha só para aqueles brincos-de-princesa, até me apetecia pendurá-los nas orelhas.

- Vieram do jardim da minha avó, assim como as rosas, as sardinheiras, as hortênsias, os jarros brancos, entre muitas outras plantas que adoro. Algumas das plantas também foram oferecidas por vizinhos e amigos queridos.

- Olha ali, um pimenteiro e morangueiros! - entusiasmou-se a Rosa Gulosa – Sou perdidamente apaixonada por morangos!

- Também tenho amoras, que os passarinhos tanto gostam. – disse a Ritinha -   Ai, ai... Este é mesmo o meu quintal encantado onde passo momentos mágicos e aprendo coisas fantásticas sobre a Natureza. Sempre que cá venho faço amigos novos, desde passarinhos, borboletas, libelinhas, joaninhas, bichinhos-da-conta, caracóis comilões, gatos vadios atrevidos, entre outros animais extraordinários. A minha família cresce de cada vez que faço um amigo novo e o meu coração fica ainda mais feliz!

- É tão bonito ver o teu amor pelos animais e plantas - disse o Nariz-Gelado - Apesar de pouco conhecer os humanos, já percebi que eles pouco olham para a Natureza. Nós, os duendes, não conseguimos viver sem a Natureza. Ela é nossa mãe e, por isso amamos e respeitamos todos os seus seres-vivos, sejam animais ou plantas, cada qual com o seu coração, e, como disseste, fazem todos parte da nossa grande família.

- Exatamente, eu também penso assim.  Infelizmente muitas pessoas só sabem destruir a Natureza em troca de dinheiro e luxos. Talvez por isso goste tanto de duendes, fadas, e outras criaturas mágicas que habitam na Natureza.

- Querida Ritinha, és uma humana com um lindo coração verde de duende, que ama a Mãe Natureza.  – disse a Rosa Vaidosa.”

in "Os três irmãos duendes", Rita Micaelo Silva, 2023







O passarinho do meu quintal

 Um poema em homenagem a uma pardalita com quem fiz amizade no verão de 2023. 





Rosa Velhinha


Rosa velha rosinha  

Rosa muito velhinha

Na minha jarra se aninha

Com postura de rainha

 

Era nova quando a colhi

Lá no meu quintal feliz

O vento malandro petiz

Não ma levou por um triz

 

A rosa meu coração acarinha

Mesmo com folhas enroladinhas

E as pétalas bem velhinhas

Que já não atraem abelhinhas

 

É memória dos meus avós

Que já mesmo sem voz

Nunca me deixam só

Quando a vida não tem dó

 

Rita Micaelo Silva

Abril, 2024