sábado, 18 de outubro de 2014

20 de Setembro de 2014

O  dia  acordou cinzento  e a  nuvens ameaçavam chuva a qualquer instante.
Como sempre o  citadino  vê a chuva  como um  contratempo  que  pode servir para cancelar ou  estragar uma  festa ao ar  livre. Foi exactamente  isso  que  eu  pensei, quando acordei para ir a uma reunião familiar,  na quinta da Costeira, na Aveleda.
Curiosamente, este também era  o dia de aniversário do meu pai. Por isso, ir  à Costeira foi uma  forma  de o recordar e de  lhe prestar homenagem, onde ele brincou  e  conviveu com a família do seu avô paterno.
Eu não  cheguei a conhecer o meu bisavô  Joaquim e só fiz uma visita à Costeira uma única vez,  quando tinha apenas três ou  quatros anos  de  idade,  da qual  não me recordo.  No entanto, cresci sempre com  a  Costeira no meu imaginário, por causa  das histórias que a minha  avó Teresa e bisavó Matilde me contavam.
Deste modo, ir à Costeira foi  com uma viagem  no  tempo, onde as  histórias das minhas avós se tornaram realidade e  onde pude recordar memórias que vivi  apenas pelo que  me contavam. Foi uma sensação deliciosamente estranha, pois mesmo sem conhecer as maioria das pessoas, senti-me completamente em casa  e  em família.
No inicio, a tendência foi descobrir “quem é quem” e construir  à pressa uma confusa árvore  genealógica, mas  são tantas gerações que optamos por ser todos  primos  e  primas  e usufruir  do  momento com alegria.
Deste modo, o  piquenique debaixo  da  velha ramada,  para qual  cada um contribuiu com  uma iguaria,  juntou risos, conversas e histórias que pareciam não  ter  fim. Que delicioso o arroz  de forno da  nossa querida anfitriã  Bel!  Huuuum, e  o vinho  da aldeia?! Já para não falar  nos grelhados do primo  Mário, na  frescura dos saborosos  tomates do  quintal,  do doces e do Pão Podre, que segundo o  tio Quim, escandalizou o  meu  pai, quando era miúdo, por pensar  que lhe  estavam a oferecer pão estragado. Realmente, o nome não é lá muito  apetitoso, mas o doce é mesmo saboroso!
De barriguinha cheia,  enquanto as crianças brincam no  antigo baloiço, no qual dizem que caí ao  colo do meu avô, uns primos deixam-se embalar  pela  tranquilidade da quinta, outros passeiam  pelos recantos navegando pelas memórias, os mais curiosos andam simplesmente a bisbilhotar os encantos dos tempos  antigos, outros dedicam-se  a eternizar o momento em fotografias, outros brincam com  os velhos cães da quinta  e outros certificam que nada falta na mesa.
Mais primos continuaram a chegar, trocam abraços emocionados e relembram histórias de  tempos que já lá vão  e  de pessoas que já cá não estão.
Foram vários os momentos em que imaginei, no meu interior, as vozes da minha avó Teresa e  da  minha bisavó cheias de alegria por verem a  família toda  junta  na quinta centenária, onde passaram muitos dos seus melhores momentos da sua infância e juventude.
“Vês, Ritinha, quando era pequena adorava passar  por este caminho de  buxos” – diria a minha avó Teresa entusiasmada – “Sente o cheirinho, huuum, que maravilha!”
“Nos tempos mais frios, juntávamo-nos todos na Sala de Inverno, com  a salamandra acesa, a lanchar e a conversar até anoitecer” – contaria a bivó Matilde  - “Eram tardes em cheio”.
Tal  com eu, para além da longa conversa com as suas queridas primas Bel e Tecas (anfitriãs da casa), a avó  Teresa ia adorar fazer festas aos encantadores cães da quinta, principalmente á  “Fugy” que não se cansava de me  dar a patinha, pedindo mimos.
O salsicha do vizinho apareceu de repente cheio de energia, agitando  os restantes  companheiros que, na sua linguagem, lhe dizem para se ir embora. Cabisbaixo, lá foi ele pela estrada fora,  mas… não  demorou  muito a voltar!
À tardinha, eu e a minha mãe tivemos ainda o privilégio de dar um passeio pela  quinta na companhia das primas mais novas – Isabel, Leonor e a linda princesinha pequenina Ariana – e a  sua tia Albertina. A doce Ariana fez questão de me oferecer  duas pedrinha do chão da quinta, que  guardei  com todo o carinho como recordação destas crianças fantásticas, que vivem felizes e saudáveis no meio da natureza.
Por instantes, a chuva resolveu juntar-se  à festa, dando-lhe  apenas um toque de  frescura, que  soube mesmo bem, mas logo veio o sol quentinho, cuja luz mágica de fim de tarde ilumina  a fotografia com todos os primos a posar para a posteridade.
Fica assim a memória de um dia que  prometia ser  cinzento  e acabou por se  inundar de emoções, recordações e descoberta de um mar  de primos, numa  reunião familiar, onde o passado  e o  presente  se encontraram  harmoniosamente, na tranquilidade de uma quinta cheia de histórias.
Fica também a saudade e a vontade de lá voltar.

1 comentário:

  1. Há muito tempo que não vinha ao teu blog e só agora vi este teu texto.
    E ainda bem que o vi, pois foi exatamente assim que eu me senti. Tudo. A camaradagem com as primas que só tinha visto uma ou duas vezes, os recantos contados e recontados pela tua avó que os faziam tão familiares, a lembrança da tua avó. Tudo o que tu descreves.
    Beijos Paula

    ResponderEliminar